5. Que Lugar é Esse?
Wendel se levantou com dificuldade. Seu corpo estava bastante dolorido. Ergueu-se do solo gramado e observou a sua volta. Estava na orla de uma floresta, pássaros voavam cantando, Antares brilhava com toda sua energia, uma suave brisa corria levando um leve cheiro salgado. Perto dali havia um grande mar. Árvores enormes se estendiam até o alcance da vista. O céu estava claro e com poucas nuvens. O garoto apalpou o corpo:
- Legal! Eu ainda tô vivo. Mas minha cabeça dói muito. – exclamou Wendel esfregando a cabeça. – a única coisa que me lembro é do Rodrigo gritando o meu nome.
- Wendel! Você tá vivo rapá!
Wendel olhou rapidamente para trás. Viu Rodrigo, Saulo e Adriano saírem de dentro da floresta. Logo em seguida Danilo, Brendon e Ejandre pareceram. Wendel correu ao seu encontro. Ruas roupas estavam razoavelmente rasgadas e bamboleavam por causa da tontura.
- Que bom que todo mundo estar bem! – exclamou Danilo.
- Ué, cadê o Relisson? – perguntou Wendel preocupado.
- Fica calmo, daqui a pouco ele aparece. – respondeu Adriano.
- Meu braço estar latejando. – disse Brendon mexendo o braço machucado.
Um grande estrondo foi ouvido. Pássaros saíram voando em disparada do meio da floresta. Outro estrondo foi ouvido, mas desta vez foi mais perto. O barulho foi se aproximando aos poucos. Os meninos olhavam atentamente para a floresta. Um vulto familiar foi surgindo ao poucos. Relisson corria o máximo que podia gritando feito louco:
- CORRAM, CORRAM, CORRAM!
Raízes enormes surgiram trás do garoto. Uma grande árvore, contendo dois olhos e uma boca saiu da floresta e atacou Relisson nas costas com cipós verdes. Ao ver os meninos, a árvore os atacou com seus troncos e cipós pontiagudos, que faziam buracos no chão quando os meninos se desviavam.
- Como você... Conseguiu... Aborrecer... Essa árvore Relisson? – perguntou Saulo enquanto de desviava dos cipós.
- Eu não sei! Apenas... Tropecei... Nas raízes e quebrei uma delas. – respondeu Relisson.
Por mais que os garotos tentassem desviar de todos os cipós, as tentativas eram completamente em vão. Alguns estantes depois, os garotos estavam fadigados e cansados de correr, a monstruosa arvore os encurralou. Os meninos fecharam os olhos esperando a investida da arvore.
Um grande urro foi ouvido. Os meninos abriram os olhos e ao olharam para o lado viram um rapaz segurando um grande leque branco aberto. O rapaz rodopiou o leque que segurava na mão direita e apontou em direção à árvore. Um forte vento surgiu em formato de lâmina e cortou a árvore ao meio.
- Vocês estão bem? – perguntou o rapaz se aproximando dos meninos.
O rapaz era forte, alto e robusto. Sua pele bronzeada e seus olhos eram castanhos. Deu um amigável sorriso mostrando seus dentes brancos assim como o quimono que trajava. Sua voz era grave, porem gentil.
- Estamos sim! Obrigado! – agradeceu Ejandre limpando a roupa.
- Legal! Como você fez aquilo? Que árvore era aquela? Que lugar é esse? Quem é você? – perguntou Adriano eufórico.
- Calma! Uma pergunta de cada vez. Certo? Vamos lá. Meu nome é Carlos e sou mestre de dominação de vento, por isso eu conseguir fazer aquilo. Aquela árvore é chamada de tayroi e são bastante tranquilas, exceto se você quebrar as raízes delas. – respondeu o rapaz. Relisson deu um sorriso amarelo.
- E onde estamos? – perguntou Saulo curioso.
- Pelo que me consta, estamos em Paládium o planeta principal da galáxia Gama. Para ser mais preciso na floresta Nancy.
- Galáxia Gama? – perguntou Adriano franzindo a testa.
- Exatamente! Ah você sabe, Paládium, os sete planetas, o sol Antares, as três luas que são: Rigel, Pólux e Sirius...
- Nós não sabemos de nada disso. – respondeu Rodrigo olhando para os outros que estavam também confusos.
- De que planeta vocês são? – perguntou Carlos abismado.
- Do planeta Terra...
- Ei! Escuta aqui garoto, pra começar não é planeta Terra e sim Enéias o planeta dos dominadores de terra. – disse Carlos interrompendo Brendon.
- Mas já falamos, não conhecemos nenhuma galáxia Gama e nem esse tal de planeta Enéidas ou sei lá o quê. Nós somos do planeta Terra. – respondeu Adriano.
Um grande tigre dentes de sabre saiu de dentro da floresta e pulou por cima dos meninos e parou ao lado de Carlos. Em suas costas estava montado um rapaz com um quimono azul escuro contendo nas costas a gravura de um livro de capa marrom aberto. Bem no meio do livro estava desenhada uma balança de ouro com os pratos equilibrados, e um martelo feito de ouro e diamante atravessando o livro e a balança. O rapaz era meio gordo, seus cabelos negros e os olhos castanhos. Sua barba e bigodes pareciam ter sido recentemente aparados. Desceu do tigre:
- Algum problema Carlos? – perguntou o rapaz em uma língua que ninguém entendeu.
- Nada não mestre Bernardo. – respondeu Carlos em outra língua diferente.
- Vocês estão entendendo alguma coisa? – sussurrou Relisson.
- Por mais estranho que possa parecer, eu entendi! – respondeu Adriano.
- Eu também entendi! – respondeu Ejandre.
Os meninos se entreolharam por um momento. Finalmente Saulo perguntou:
- E o que eles estão falando?
- O rapaz que chegou agora perguntou para Carlos se havia algum problema. – respondeu Adriano.
- E Carlos respondeu que não havia nenhum e esse rapaz que chegou o nome dele é Bernardo. – completou Ejandre.
Os dois rapazes se aproximaram dos meninos. Bernardo se apresentou:
- Olá! Meu nome é Bernardo e sou mestre em dominação de água. Mestre Carlos me disse que vocês não são daqui. Isso é verdade?
- É verdade sim! O Adriano achou esse trambolho aqui e seguimos as imagens que ele projetava. Daí, chegamos a uma sala feita de vidro e respondemos um enigma. Montamos um quebra-cabeça mágico e viemos pra cá. – respondeu Rodrigo tirando do bolso esquerdo da calça o objeto de doze lados.
- Você ainda pegou isso? – perguntou Danilo.
- Achei que poderia precisar! – respondeu Rodrigo.
Bernardo pegou o objeto e começou a analisá-lo. Depois de alguns minutos falou:
- Isso meninos é um flip. São usados apenas por mestres. É incrível que um desses fora parar na sua dimensão.
- Dimensão? – perguntou Relisson.
- Exatamente! Existem cinco dimensões. Cada dimensão tem uma característica distinta: a primeira dimensão não possui dominadores; a segunda dimensão possui grandes dominadores; a terceira é a dimensão do terror, onde seus piores pesadelos se tornam realidade; a quarta dimensão é uma imensa biblioteca e a quinta e última ninguém sabe o que tem lá. – respondeu Bernardo.
- Mas o estranho é que para passar de uma dimensão para outra é preciso passar pelo espaço bidimensional conhecido como “Limiar do Espaço Tempo”. Esse limiar é uma barreira que impede que intrusos invadam a galáxia...
- E o que isso tem de tão estranho? – perguntou Wendel interrompendo Carlos.
- O LET da segunda dimensão é totalmente mágico, ou seja, quem não pertence a essa dimensão é instantaneamente convertido a pó. – respondeu Bernardo.
- Quer dizer que a gente poderia ter morrido? – perguntou Brendon espantado.
- Sim! Mas por alguma razão vocês conseguiram sobreviver. Agora só basta saber o motivo. – falou Carlos entregando o flip de volta a Rodrigo.
- Posso fazer uma pergunta?
- Pode sim é... Qual seu nome? – perguntou Carlos.
- É Adriano. Que tigre é esse?
- Ah esse é Brian ele é minha invocação. Invocações são animais que servem para montaria ou ajuda na batalha. Cada pessoa só pode fazer um tipo de invocação. Bernardo estar usando ele de palhaço que ele é. Deixei Brian um instante para vim ajudar vocês e ele usa como se fosse dono. – respondeu mestre Carlos inconformado.
- Desculpe-me Carlos-sama! – falou Brian com uma voz incrivelmente grave.
- Ahhhhhh... Esse tigre falou? – perguntou Rodrigo assustado.
- Calma! Todas as invocações falam. Isso é normal. – tranquilizou Bernardo.
- O que é esse desenho em sua costa? – perguntou Saulo a Bernardo.
- Esse é o escudo de Paládium. É nosso brasão e nossa bandeira. – respondeu Bernardo.
Instantes depois, três grandes falcões negros apareceram. Desceram e pousaram suavemente. Em cima de um deles estava montada uma mulher. Trajava um quimono verde escuro e possuía o brasão de Paládium nas costas. Seu cabelo castanho era uma trança que ia deste a testa até a altura da cintura. Seus olhos verdes fitavam os meninos enquanto se aproximava.
- Desculpa pela demora rapazes! Mas trazer esses pássaros até aqui não foi fácil. – saudou a moça.
- Não se preocupe mestra Sofy. O importante é que você chegou. – retribuiu Carlos.
- E quem são esses meninos? – perguntou Sofy fitando-os.
- Eles são da primeira dimensão e estávamos pensando em levá-los para terem uma audiência com a princesa Lara. Talvez ela saiba o que fazer. – respondeu Carlos.
- Da primeira dimensão? Que estranho eles ainda estarem vivos! Ótima idéia falar com a princesa! Ela com certeza vai saber o que fazer. – disse a moça.
- Vocês topam ir até a ilha da rainha? Alguns preferem o nome original Órix. Com certeza a princesa ajudará vocês a voltarem pra casa. – perguntou Carlos.
Todos aceitaram. Caminharam em direção aos sandans e montaram em cima deles. Logo os pássaros levantaram voo. Planavam graciosamente pelos céus. Pássaros multicoloridos o acompanhavam. Das águas pulavam golfinhos e sereias muito bonitas. Lindas montanhas ao ocidente cobriam o sol. Tayrois movimentavam-se sob o solo das florestas.
- Puxa vida! Como isso é maneiro. Ver essa linda paisagem e ainda sentir a adrenalina correr pelo corpo quando esse pássaro dá algumas guinadas radicais. – exclamou Saulo.
- É bom pra você, não pra mim. Você sabe que eu tenho medo de altura. – exclamou Adriano segurando-se no sandans com toda a força.
Estavam em mar aberto quando viram um brilho no horizonte. Aos poucos foi se revelando uma grande ilha. Um castelo adornado com pedras preciosas e ouro ficava bem no meio da ilha. Uma enorme construção parecida com o coliseu ficava do lado esquerdo da ilha e do lado direito encontrava-se uma estufa e um pouco mais a frente, uma cachoeira.
Sofy balançou uma pulseira de pérolas verdes do seu braço esquerdo. Uma espécie de escudo de força se desfez do redor da ilha e voltou a se refazer quando os sandans pousaram.
- Bem vindos! Essa é a ilha da rainha, lar da princesa Lara e de seus mestres protetores. Aquele é o palácio Alpha. Aquela construção gigante ali é chamada de Arena da galáxia. É onde acontece o torneio pelo controle da galáxia a cada cinquenta anos. – explicou Sofy.
Caminharam por uma trilha que os levou até a entrada do palácio. A porta de entrada era feita de ouro e com detalhes em alto relevo. Bernardo abriu a porta e os meninos adentraram no palácio. O local era amplo. Colunas feitas de safira estavam espalhadas; uma enorme e larga escadaria com os degraus de mármore ficava no lado esquerdo. No teto havia lustres de cristais vagando de um lado para outro sem nada para pará-los, estátuas e escudos feitos de prata, alguns de ouro rodeavam a sala, misturadas as cores da bandeira de Paládium. No piso, que era feito de ônix, estendia-se largos tapetes vermelhos com as bordas em fios de ouro.
- Maneiro aê! Da até pra ouvir o barulho dos meus passos. – exclamou Ejandre.
- E não é só isso, da até pra ouvir o eco da nossa voz, sem falar que tudo aqui ou é feito de ouro ou é feito de diamante. – exclamou Adriano admirado com o lugar.
Mestra Sofy se adiantou e ficou de frente para os meninos. Falou:
- Eu irei falar com a princesa para ver se dar pra fazer uma audiência de última hora. Enquanto isso, Bernardo vai levar vocês para comerem alguma coisa na nossa cozinha...
- Você falou em comida? Acho que você leu meu estômago. – exclamou Brendon passando a mão na barriga.
- Engraçadinho! Pois bem, vamos lá. Carlos você vem comigo. Vejo vocês daqui a pouco. – disse Sofy puxando Carlos pelo braço e subindo as escadas.
Bernardo pediu para os meninos lhe acompanharem até a cozinha. Seguiram pelo corredor direito e pararam em frente a uma porta feita de sárdio com uma plaquinha escrita “cozinha”. O local era amplo. Suas paredes eram feitas de esmeraldas e havia uma enorme mesa de madeira de acácia, no meio da sala verticalmente. Do lado oposto da entrada havia uma porta com estofamento vermelho.
Os meninos seguiram Bernardo e adentraram a porta vermelha onde ouviram alguém cantarolando. A cozinha possua vários fornos e fogões. Ingredientes, utensílios de cozinha e panelas cortavam a sala de um lado para o outro flutuando. Os fogões se acendiam automaticamente enquanto as panelas pousavam levemente nas bocas e os ingredientes eram despejados como se tivessem vontade própria. Pias contendo louças sujas que se lavavam sozinhas enquanto vassouras tiravam o pó. A cozinha exalava um delicioso cheiro de chocolate com morango.
- Oi galera! Tudo “belê”? – disse alguém atrás dos meninos.
Quando se viraram para trás tomaram um susto. Viram uma criatura muito estranha. Seus pés eram tentáculos de polvo, seu tronco era igual à de homens que fazem academia e sua cabeça era de tigre.
- Oi William, como vai? – perguntou mestre Bernardo estendendo a mão em direção a estranha criatura.
- Tudo bem! Quem são esses? – perguntou William.
- Pessoal, quero que vocês conheçam William. Ele é nosso cozinheiro chefe de mão cheia, quer dizer mãos cheias, quer dizer tentáculos cheios, ah sei lá alguma do gênero – embaralho-se Bernardo. – Não precisam ficar com medo. Apesar dessa aparência estranha ele é muito simpático.
- É verdade. Mas ter vários tentáculos tem suas vantagens, enquanto um corta as verduras outro meche a panela ou pega os ingredientes e por ai vai. E o melhor de tudo é que eu posso saudar várias pessoas ao mesmo tempo. – brincou William estendendo os tentáculos em direção aos garotos.
- Maneiro! – disse Rodrigo admirado apertando um tentáculo.
- É molhado e meio pegajoso. – disse Relisson fazendo cara de nojo.
- E então o que vocês vão querer comer? Que tal Rengs frita? Uma sopa de legumes com Girgaga talvez? Já sei! Suco de Purpis com Varões fritos. – mencionou William pegando algumas panelas que estavam ao seu lado.
Ejandre deu uma pequena cotovelada em Bernardo que por sua vez olhou pro garoto.
- O que é uma Rengs, Girgaga, Purpis e Varões? – sussurrou o menino.
- Rengs no seu mundo deve ser ova de polvo. Girgaga é uma lagarta que solta fogo pelos buracos que existem em suas costas, sua carne é bem suculenta. Purpis é uma frutinha roxa que no seu mundo deve ter gosto de kiwi e Varões no seu mundo seria carne boi. – respondeu mestre Bernardo enquanto mostrava os lugares para os meninos sentarem.
- Ok, chega de papo. Agora é à hora do rango – William saiu da cozinha e caminhou em direção a mesa onde colocou os pratos e a comida.
Os meninos provaram com cuidado a comida que William tinha preparado. Se estivesse ruim nem precisariam se preocupar já que mestre Bernardo estava devorando tudo no prato. Deram uma ou duas provadas e a cara de medo foi se transformando em uma cara de admiração com o sabor irresistível da comida.
- Hum! Isso tá muito bom. Poxa William, você é um cozinheiro de verdade. – elogiou Danilo estendo o prato pra pedir mais.
- Obrigado... Como é o seu nome mesmo? – perguntou William. – Danilo – respondeu o menino – Então, obrigado Danilo!
Um pequeno pergaminho, contendo asas nas pontas, entrou voando pela cozinha e pousou perto de Bernardo. O rapaz leu e se levantou:
- Vamos! Sofy conseguiu uma audiência com a princesa. Estar na hora de voltar pra casa. – anunciou Bernardo.